03/07/2016
A lógica do governo golpista
Do Blog do Miro - domingo, 3 de julho de 2016

De fato, ninguém se queixa de viajar de ônibus de São Paulo a Belo Horizonte, até o dia em que se vê em condições de cobrir o percurso em avião. Logo vê-se impossibilitado de voar e obrigado a viajar de novo por terra. Isso dói.
Essa dor da perda faz milhões de brasileiros se decepcionarem com o governo golpista de Temer. De cara, ele passou o rodo nos ministérios e secretarias especiais que, em 13 anos de governo do PT, trouxeram avanços significativos em suas respectivas áreas: Cultura, Direitos Humanos, Mulheres, Juventude e Igualdade Racial.
O ministro da Saúde ameaçou ignorar a Constituição e restringir o acesso dos brasileiros ao SUS. Tentou ainda erradicar o programa Mais Médicos e enviar os profissionais cubanos de retorno à ilha. Teve de recuar. Quantos doutores brasileiros estão dispostos a atuar em regiões remotas do país junto à população mais pobre?
O ministro da Educação – que falou "eu ovo” em vez de "eu ouço” – também ameaçou tirar os recursos de programas, como o FIES, que possibilitaram, nos útimos 10 anos, o ingresso de mais 9 milhões de alunos nas universidades brasileiras. Acuado, prometeu rever seu propósito, aliás digno da política colonial portuguesa, que sempre impediu o Brasil de ter universidade, enquanto no Peru e na República Dominicana ela existe desde o século XVI.
Reduzir os recursos do Bolsa Família, por exemplo, é tirar milhões de crianças da escola e do acesso às garantias mínimas de saúde, como as vacinas, já que a renda destinada à família vincula a obrigatoriedade de frequência escolar e atenção sanitária dos filhos.
Tais medidas são exemplos da lógica perversa do governo golpista: dependurar a economia nas exportações; asfixiá-la pelos ajustes fiscais; implantar o Estado mínimo; considerar gastos os investimentos em programas culturais e sociais. Assim, o Brasil perpetua sua impossibilidade de fomentar o mercado interno – medida adotada pelos EUA para sair do atoleiro após a crise econômica de 1929.
Um país só fortalece seu mercado interno se investir em capital humano, ou seja, saúde educação e cultura. Quando se joga pra escanteio tais direitos, assina-se o atestado de pobreza e dependência de uma nação desigual e injusta.
Os eleitores de Lula e Dilma votaram na igualdade de oportunidades. Os apoiadores de Temer preferem a meritocracia. Ora, como assegurar mérito se a desigualdade social exclui milhões de pessoas de acesso à escola e ao emprego formal?
A cultura escravocrata ficou tão impregnada no brasileiro que paira no ar o medo de se tornar realidade a hipótese de não haver mais Casa Grande nem senzala...
Portanto, se perder dói, não nos resta outra alternativa que lutar para ganhar. Quem não chora não mama.