16/06/2016
Quando Dilma foi na contramão dos esquemas ilícitos
Jornal GGN - Embora tente colocar Dilma Rousseff na mira de envolvidos do esquema de corrupção em estatais, em situações em que a presidente supostamente teria conhecimento do que ocorria, a delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) não conseguiu trazer provas do envolvimento da presidente nos casos delatados. Mas, por outro lado, admitiu que a presidente foi a responsável, em pelo menos dois casos, por quebrar esquemas montados para a corrupção. Em um terceiro, mostra que Dilma não entrou em negociatas para aprovar Medida Provisória que favorecesse banqueiro investigado.
Foi o caso de Furnas, no qual Delcídio relata a participação direta de Aécio Neves (PSDB-MG) no esquema - "sem dúvida um dos beneficiários dos valores ilícitos" - comandado por Dimas Toledo, então diretor de engenharia da estatal e que possuía "vínculo muito forte com Aécio" e com o PSDB, além de apoio do Partido Progressista. Na delação, o senador conta que "quando o governo Lula assume, há uma movimentação de se mudar a diretoria de Furnas, mais especificamente a diretoria de engenharia" - a mais "cobiçada", a "joia da coroa" para o esquema de desvios.
Entretanto, a tentativa do ex-presidente foi frustada, explica Delcídio, porque Dimas Toledo era sustentado por "três partidos importantes", assim teria mencionado Lula ao senador. Trata-se do PSDB, do PP e, posteriormente, do PT, sobretudo por influência de José Dirceu. Por isso, disse Delcídio, o ex-presidente não interferiu nos comandos da estatal. Cenário este que mudou com a entrada de Dilma Rousseff:
"Em relação a Furnas, Dilma teve praticamente que fazer uma intervenção na empresa para cessar as práticas ilícitas, pois existiam muitas notícias de negócios suspeitos e ilegalidade na gestão da empresa", relatou Delcídio.
O senador completou que a presidente Dilma trocou "praticamente toda a diretoria" em Furnas, agora "absolutamente técnica" e de confiança da presidente. Os investigadores, então, questionaram Delcídio até quando durou o esquema de ilegalidades de Furnas. "Até uns quatro anos atrás, quando Dilma mudou a Diretoria", respondeu.
Ainda na delação, o parlamentar disse que esta mudança e interferência da presidente na estatal foi "o início do enfrentamento de Dilma Rousseff e Eduardo Cunha, pois este ficou contrariado com a retirada de seus aliados de dentro da companhia".
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Em outro episódio, considerado por Delcídio "um dos maiores escândalos envolvendo a BR Distribuidora", e detalhadamente descrito em reportagem anterior pelo GGN, trata-se de uma operação comandada por João Augusto Henriques, entre 1997 e 2001, na estatal, manipulando as margens de preço da compra de etanol junto a usinas.
Henriques tinha amplo apoio do PMDB, sobretudo de Michel Temer. Todo o esquema foi montado visando lucro sobre as variações de preço do etanol, entre 2007 e 2008. Depois disso, o vice-presidente fez lobby para que se aprovasse o ex-diretor da BR Distribuidora na Petrobras, especificamente na Diretoria Internacional.
Mas Dilma Rousseff, então ministra Chefe da Casa Civil, "vetou" o apadrinhado de Temer para a Petrobras, contou Delcídio.
"João Augusto Henriques foi cotado para ser Diretor da Diretoria Internacional da Petrobras, entre 2007 e 2008, com o apadrinhamento de Michel Temer e da bancada do PMDB na Câmara, mas teve seu nome vetado pela Presidente Dilma Rousseff, diante dos desmandos havidos quando foi diretor na BR Distribuidora", assumiu o parlamentar aos investigadores.
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A então ministra Dilma levou em consideração, ainda, os "problemas [de Henriques] no Tribunal de Contasl". Com a negativa, quem assumiu a pasta na estatal foi Jorge Zelada.
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Em outro momento, refere-se ao caso do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, denunciado por tentativa de obstruir o avanço das investigações da Operação Lava Jato, em forma de pagamento pelo silêncio do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró. Delcídio brevemente cita quando Dilma Rousseff assumiu a Presidência da República, o banqueiro perdeu a interlocução junto ao Planalto, que antes era feita por meio de Antonio Palocci, ministro da Fazenda do governo Lula.
O senador explica que, por isso, a partir da gestão de Dilma, ele mesmo passou a exercer "esse papel de interlocutor", o que se seguiu quando Delcídio ocupou a Presidência da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, no início de 2015, e foi líder do governo em abril do último ano.
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Da mesma forma, em outro trecho, Delcídio exime de responsabilidade a presidente Dilma Rousseff em aprovação de Medidas Provisórias que beneficiassem o banqueiro André Esteves.
"O processo legislativo de emendas parlamentares a medidas provisórias se transformou em campo fértil para oportunidades de defesa de interesses setoriais e para negócios escusos", disse o senador. "Uma das emendas, a MP 668, apresentada por Eduardo Cunha ou congressista a ele ligado, (...) consistia em permitir o pagamento de dívidas com o governo mediante papéis de baixa liquidez", completou.
"A emenda foi vetada pela Presidente da República", concluiu Delcídio, antes de seguir narrando que o banqueiro ainda teria tentado a aprovação da Medida junto ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
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